Com a capacitação, os detentos têm direito a um certificado de 160 horas e estão habilitados a trabalharem na indústria têxtil.
Dezessete detentos da Cadeia Pública de Alto Araguaia concluíram o curso de costureiro industrial do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). A cerimônia de encerramento aconteceu na tarde de quarta-feira (26) no próprio estabelecimento prisional. A confraternização contou com música, mostra das peças de roupas confeccionadas e um lanche da tarde com direito a bolo e refrigerante.
Além dos internos matriculados no curso também participaram da cerimônia, como convidados, representantes do Senai, do Programa Nacional de Promoção do Acesso ao Mundo do Trabalho (Acessuas Trabalho) e a secretária municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, Sandra Paniago Oliveira. A festividade de encerramento foi preparada pela instrutora do curso, Maria Celeste de Souza e pela diretoria da cadeia.
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Dezenas de peças foram confeccionadas pelos reeducandos em Alto Araguaia durante o curso[/caption]
“É algo de arrepiar mesmo. O trabalho que eu fiz com eles me surpreendeu. Por ser a primeira vez (que a professora ministrou um curso em uma prisão), existiu aquele suspense, mas logo superei, porque eu recebi apoio, carinho e dedicação deles. É um respeito muito grande que eles têm pela gente. Eu me sinto realizada”, explica Maria Celeste.
MAIS DE 300 PEÇAS DE ROUPAS CONFECCIONADAS
Ao longo de 45 dias de capacitação os recuperandos – como são chamados os internos que trabalham ou estudam dentro da unidade prisional – aprenderam conteúdos sobre ética e cidadania, saúde, meio ambiente, corte de confecção para tecido plano, costura de tecido plano e operação de máquinas de costura. Assim, eles tiveram acesso a um curso técnico que lhes dá direito a um certificado de 160 horas/aula.
Durante a qualificação, os detentos fabricaram mais de 300 peças de roupas, incluindo moda íntima, calças sociais, blazers, saias, blusas femininas, baby dolls, biquínis, vestidos adultos e infantis, agasalhos, shorts de verão, entre outros. Parte da produção já foi doada para as famílias dos próprios alunos e o material restante será revertido para essas mesmas famílias nos próximos dias, segundo o diretor da cadeia, Luiz Gustavo da Silva Machado.
“A gente tem muito a agradecer por tudo que nos foi dedicado. É uma nova chance. Com o conhecimento que eu adquiri quero trabalhar na cooperativa que o promotor de justiça (Dr. Márcio Florestan Berestinas) pretende fazer para os reeducandos que estão saindo da cadeia”, conta um dos participantes do formação, que não terá o nome divulgado visando preservar sua imagem.
A LUTA PELO CURSO
Para que o curso se tornasse uma realidade, o Ministério Público Estadual (MP) de Alto Araguaia, a Prefeitura via Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, o Senai, o Poder Judiciário local e o Acessuas Trabalho somaram esforços. Durante mais de um ano essas entidades lutaram pela realização do treinamento profissional. O resultado foi que o Ministério da Educação (MEC) – responsável pelo Pronatec – atendeu às reinvindicações e autorizou o início do curso.
Para que o curso fosse consolidado, a prefeitura teve papel decisivo, conforme afirma o diretor da cadeia: “Para realizarmos o curso, tivemos a parceria com a Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Assistência Social, onde nós conseguimos cadastrar esse curso pelo Pronatec”, disse Machado.
A EXECUÇÃO DO CURSO
Financiado pelo Pronatec, o Senai de Alto Araguaia se responsabilizou pela capacitação, contratando a instrutora de aprendizagem, fornecendo o material escolar e uniforme gratuitamente aos detentos, bem como a matéria-prima utilizada na confecção das peças e a metodologia de ensino.
Das 22 máquinas usadas no curso, 12 foram cedidas pela Prefeitura e as outras 10 são do projeto “Educando para Recuperar” (que conta com uma oficina de corte e costura e uma fábrica de tijolos dentro da própria cadeia).
PAPEL DO ACESSUAS
Já o Acessuas terá a missão de auxiliar os recuperandos a conquistarem um trabalho, assim que deixarem a prisão. “O Acessuas se empenha justamente pela inclusão produtiva dos indivíduos carentes e em situação de risco social. É o caso dos recuperandos, que fazem parte do nosso público e receberão todo o nosso apoio para alcançarem um trabalho ao conquistarem a liberdade”, contou o coordenador do programa em Alto Araguaia, Ademilson Antônio Lopes de Almeida.
LANCHE DA TARDE TODOS OS DIAS
Quem faz um curso pelo Pronatec recebe uma bolsa formação no valor de R$ 2 por cada hora de estudo. O dinheiro é oferecido para ajudar o estudante a custear as despesas com transporte e alimentação ao longo da qualificação. Porém, como os recuperandos estão presos, no lugar da quantia financeira, eles receberam lanche da tarde em todos os dias do curso, com direito a refrigerante, confeitos e salgados.
REDUÇÃO DA PENA
Conforme o art. 126 da Lei de Execução Penal, no seu inciso I, a cada 12 horas que o preso passa estudando, ele tem direito a um dia a menos no cumprimento da pena.
As aulas aconteceram à tarde, das 13h30 às 17h30, de segunda à sexta-feira. Portanto, o recuperando passou quatro horas diárias aprendendo e a cada três dias de curso, diminuiu um dia de recolhimento. Assim, o preso que frequentou todas as aulas reduziu treze dias de pena.
PRÓXIMOS CURSOS
Segundo a analista operacional do Senai da cidade, Nilva Alves Rodrigues, a entidade já planeja novos cursos para os recuperandos no ano que vem. “A promotoria já fez uma nova solicitação para 2015 e nós (Senai e assistência social) já estamos buscando junto ao Governo Federal essa pactuação, para trazer, possivelmente, um curso de eletricista industrial, um curso de alvenaria e um curso de ceramicista”, adiantou.
Mais informações:
Ademilson Lopes – Coordenador Acessuas Trabalho
Telefone: (66) 3481-2946
Celular: (66) 9603-6785
E-mail: acessuasaia@gmail.com
Blog: www.trabalhoaia.blogspot.com